De olho no crescimento da mobilidade
elétrica e nas necessidades cada vez maiores de soluções que estabilizem
a energia gerada por fontes intermitentes, a fabricante pernambucana de
baterias Moura desenvolveu sua tecnologia para baterias para
armazenamento de energia elétrica, a primeira fabricada no Brasil. A
expectativa é que, em cinco anos, a divisão represente até 20% da sua
receita, que somou R$ 1,4 bilhão em 2018.
As baterias foram desenvolvidas em
parceria com o Instituto Tecnológico Edson Mororó Moura (ITEMM), em um
processo que teve início há mais de oito anos, quando a companhia,
tradicional fabricante de baterias para uso automotivo, identificou a
oportunidade de mercado criada pelas mudanças tecnológicas no setor
elétrico. As baterias para armazenamento de energia têm sido a aposta de
gigantes elétricas do mundo, como a AES, Siemens e LG. A brasileira WEG
adquiriu um negócio de sistemas para armazenamento de energia nos
Estados Unidos.
O mercado para esse tipo de bateria ainda é
pequeno no Brasil, mas a companhia enxerga potencial de crescimento.
“Nossa expectativa é que a divisão chegue a representar de 15% a 20% do
nosso faturamento em 2025”, disse Luiz Mello, diretor geral comercial de
baterias industriais e armazenamento de energia da Moura. “O segmento é
a menina dos nossos olhos, estamos muito animados.”
“Nosso viés foi conseguir uma solução
eficaz do ponto de vista energético, que possa ter integração com
sistemas de geração eólica e solar fotovoltaica, e também uma
alternativa a geração de diesel”, disse Spartacus Pedrosa, diretor
executivo do ITEMM. Segundo ele, esse objetivo foi alcançado, e as
soluções serão desenhadas de acordo com cada cliente.
Um diferencial em relação às baterias de
armazenamento de energia (chamadas pelo jargão em inglês “storage”)
existentes no mercado é que serão totalmente fabricadas no Brasil, não
sendo, portanto, submetidas às tarifas de importação. “O produto é verde
e amarelo e reciclável”, disse Mello.
“É fácil encontrar sistemas de
armazenamento, mas não são customizados, são quase enlatados”, disse
Mello. A Moura promete uma solução customizada para a necessidade de
cada aplicação. Por exemplo, há casos em que as baterias serão a lítio, e
em outros serão de chumbo carbono. “Vai depender da aplicação”, disse
Mello.
Os sistemas podem ter grande porte,
chegando a potência desejada pelo cliente. “A bateria fica em
contêineres de 20 a 40 pés, e consegue segurar as necessidades de uma
indústria ou comércio por algumas horas”, disse Pedrosa. A bateria ocupa
algo em torno de dois terços do contêiner, sendo que o restante envolve
inversores, controladores, e sistemas que monitoram a rede e podem
acionar a descarga “num piscar de olhos” se for necessário. A solução
pode ser entregue de forma completa, com o software de gestão e
comunicação do sistema de armazenamento.
Segundo Mello, projetos de geração solar
ou eólica podem usar as baterias para manter a estabilidade na geração
durante a noite ou quando não houver vento. Os equipamentos também podem
substituir geradores a diesel. A partir de 2020, uma mudança nos preços
de energia no mercado de curto prazo pode tornar a tecnologia mais
atrativa. Os preços, que são hoje fixados semanalmente, passarão a ser
horários. Como durante à noite o consumo é menor, a tendência é que o
custo da energia seja mais barato, período na qual a bateria pode ser
recarregada.
A Moura criou uma divisão de negócios
separada voltada para os sistemas de armazenamento de energia, com
gestão independente e aposta no mercado nacional e internacional. “Temos
diversos negócios encaminhados. Alguns bem avançados em fase de
assinatura de contrato, outros ainda em fase de engenharia e estudo da
melhor alternativa”, disse Mello.
O grupo foi fundado em 1957 na cidade de
Belo Jardim, em Pernambuco. Hoje, a companhia tem sete unidades
industriais, seis no Brasil e uma na Argentina, e tem cerca de 6 mil
colaboradores. As baterias serão fabricadas no parque industrial de Belo
Jardim.