Especialistas pedem maior investimento em tecnologia e políticas claras, que priorizem energias limpas e não apenas hidrelétricas, para escapar de um apagão no futuro.
O Brasil gera quase dois terços de sua energia a partir de hidroelétricas, uma matriz limpa, mas o momento atual deixa clara uma fraqueza deste modelo: a suscetibilidade às mudanças climáticas. Com diversos estados passando por crises hídricas, com reservatórios vazios ou perto disso, o governo se viu obrigado a recorrer às termelétricas, que geram uma energia mais cara e mais poluidora. Para solucionar este dilema, concluíram os especialistas reunidos no evento Diálogos Capitais: Energia em Debate, promovido por CartaCapital, nesta segunda-feira 31, o Brasil precisa apostar em mais energias limpas e em eficiência.
Para Tania Cosentino, presidente da Schneider Electric para América do Sul, o País vive uma situação paradoxal. “A demanda por energia deve dobrar até 2050, no mundo. No entanto, acordos preveem que as emissões de dióxido de carbono devem diminuir pela metade. É um paradoxo cuja solução passa por ter mais eficiência energética”, afirma.
A Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) estima que o Brasil desperdiça todo ano o equivalente à produção de meia usina de Itaipu. “É muito desperdício para um país que possui uma das energias mais caras do mundo”, afirma Consentino. Para ela, é função do governo definir e incentivar uma política de eficiência energética. “A eficiência energética não é prioridade nem do empreendedor nem do governo. No Brasil, continuamos investindo apenas na expansão da oferta de energia”, completa.
Segundo Sergio Jacobsen, gerente-geral da Siemens no Brasil, com eles a rede de distribuição brasileira evitaria perdas, teria controle operacional e permitiria que fontes de energia intermitentes, como a solar, também alimentassem a rede. “Hoje, 6% da energia produzida no Brasil é roubada no caminho entre a usina e o consumidor”, afirma. “Isso seria completamente evitável com uma rede automatizada”.
Além das perdas, o modelo de energia que é priorizado pelo governo também pode se tornar um problema no futuro. Alheio à crise econômica, o setor elétrico irá investir 186 bilhões de reais entre agosto de 2015 e dezembro de 2018 na expansão da geração e da transmissão de energia. No entanto, a maior fatia destes investimentos é voltada para as hidrelétricas, vulneráveis às crises climáticas.
Em meio a um ambiente de crise econômica, o setor energético parece caminhar sem grandes quedas de investimento. No entanto, mais do que um problema de dinheiro, a matriz energética brasileira depende de políticas públicas claras para aumentar sua eficiência e avançar, sendo mais limpa e eficiente.